quinta-feira, 10 de março de 2011

Cartas para Isis

        Para começar, vou postar uma história que eu escrevi no começo do ano passado, só pra ir me acostumando com o blog,  pois eu sei que pouca gente vai se interessar em ler, rs.

CARTAS PARA ISIS:

        Era uma tarde escura, daquelas que o céu chega a estar cinzento e tenebroso, uma das poucas oportunidades em que a magia de olhar pro céu se perde ... Iria chover. Mas Eduardo achava que era uma força maior e muito poderosa que apenas estava de mau humor naquele momento.
        Ele entrou em um beco pouco iluminado nas ruas de Saquarema, com duas folhas de jornal já lidas naquela manhã e segurando um livro escrito por sua mãe chamado 'Lembranças', que ele lia sempre que se sentia sozinho ou quando estava triste, pois ele nunca chegou a conhece-la, sequer o nome dela ele sabia. Ele adormeceu ali mesmo, um sono profundo que nem as águas raivosas que caiam do céu o faria acordar.
        Já era de manhã e a rua que parecia pacata amanheceu agitada naquele dia. Edu acordou com sons perturbantes de carros e bicicletas. Enquanto o caos acontecia na rua, ele observava o carteiro que, com muita pressa, entregava suas cartas de casa em casa. O homem se aproximava e, na ânsia de entregar todas as cartas, deixara cair uma em frente ao beco. O menino se levantou, pegou ela e voltou para onde estava.
       Ele abriu a carta e nela estava apenas o desenho de um coração partido com a seguinte frase:

''Sem seu amor, não existe mais vida dentro de mim. Ass: Isis''. 

Eduardo não era um simples garoto de rua, ele era esperto e tinha uma boa índole, aprendeu a ler e escrever com as constantes leituras que fazia do livro que sua mãe escrevera. Ele resolveu responder a então carta misteriosa, não por maldade, ele apenas queria ajudar e tentar entender aquela  mulher, que parecia estar sofrendo por uma perda amorosa. Eles respondeu perguntando:

''Você está desistindo da vida?''

        O garoto procurou a rua que estava escrito no remetente, não era tão distante dali, então ele conseguiu localizar a casa da mulher que tinha escrito a carta respondida por ele. Eduardo bateu na porta. Após uma certa demora, uma mulher de aproximadamente 50 anos - aparentando mais de 60 - abrira a porta. Ele disse para ela que veio entregar a carta por pedido do destinatário e disse que iria pegar a resposta amanhã de manhã. A senhora aparentou surpresa, não se sabia se era pelo fato de ter um garoto estranho lhe entregando a resposta ou simplesmente por ela ter recebido uma resposta. Enfim, ela estava surpresa e concordou, entregaria a resposta no dia seguinte pela manhã.
        Como combinado, o garoto estava lá pela manhã para pegar a resposta .. E assim foi. O menino leu a carta e percebeu que ela estava sim sofrendo por uma perda amorosa. Ele respondeu mandando mensagens de incentivo para que ela não desistisse tão fácil.
        Os dias passaram e eles continuavam trocando cartas, ela achando que estava mandando para seu amor não-correspondido e Eduardo tentando reacender as forças daquela senhora. Ele percebeu que ela estava cada vez ficando mais triste em suas palavras e demonstrando muita solidão em cada verso. Foi então que ele teve a brilhante ideia: ''na próxima carta, vou escrever algumas folhas só com as partes do livro da mamãe que me confortam  e espantam a tristeza e a solidão da minha alma''. No rodapé da folha ele esclareceu para Isis de onde vieram aqueles versos e páginas, dizendo que eram de um livro que sua mãe escrevera e que o ajudou nos dias mais difíceis, espantando qualquer tipo de tristeza. E assim fez.
        Na manhã seguinte, ele foi todo na esperança de que aquela carta iria mudar os ânimos daquela mulher, entregou a ela e voltou para o seu beco. Ele esperou ansiosamente para receber a resposta da Isis no próximo dia.
        O Sol surgia em Saquarema, já era de manhã. O menino estampa um grande sorriso no rosto e vai em direção a casa da senhora que o comovera, na expectativa de buscar uma resposta animadora e promissora. Edu estava confiante de que ele tinha conseguido dar cores a vida daquela mulher, ele tinha certeza que ela iria voltar a ter amor a vida novamente.
       Chegando na casa de Isis, ele viu que ela não estava ali, no lugar de costume, para lhe entregar a carta. O garoto achou estranho e adentrou o pequeno quintal que antecede a casa. Estava tudo muito silencioso. Andando pelo gramado, ele pisou em um pedaço de papel, logo olhou para baixo e viu que era uma carta. Era a resposta que ele tanto esperava! Mesmo achando estranho que Isis não estivesse no lugar combinado, ele resolveu abrir a carta mesmo assim.
        Eduardo abriu o envelope ansiosamente, esticou o pedaço de papel e começou a ler. Seus olhos correram rápido o dois únicos versos escritos que tinha naquele papel. Seu rosto começava a adquirir uma face espantada e surpresa. Ele leu dezenas de vezes aqueles versos, tentando acreditar para entender melhor o que estava escrito. E nele dizia:

''cada verso, cada palavra .. eu que escrevi tudo isso, para o meu filho querido que mal cheguei a ter no aconchego dos meus braços ...''

       O menino entrou dentro da casa da sua recém encontrada mãe, gritando aos prantos, quase chorando ''Mãe! Mãe! Sou eu!'' e ninguém respondia, nem sequer ouviu alguma coisa. Ele procurou em cada cômodo, cada lugar, só restava a última porta do corredor ...
         Ele entrou afobado por aquela última porta e logo de cara viu Isis sentada numa cadeira velha de madeira. Seus olhos estavam fechados, porém, sua cara estava feliz, com um leve sorriso no rosto. Seu corpo estava sem vida. O garoto se aproximou e, no colo da mãe, estava um retrato de bordas velhas e empoeiradas, com a foto do pequeno Edu nos braços de uma Isis rejuvenescida e feliz. No chão, tinha um pedaço de papel com os seguintes dizeres: ''graças ao acaso encontrei você, meu filho querido. Eu já posso partir com tranquilidade, pois estas cartas me mostraram a pessoa boa que você é. Eu te amo''

        Instantes depois do acontecido, entra um senhor com uma cara gentil e generosa, ele se espanta ao ver um garoto se acabando de chorar logo na sua frente. O velho logo o abraçou e perguntou:

        "O que aconteceu, meu jovem?"

          O garoto, com dificuldades respondeu:

        "É minha mãe, senhor, não está vendo? ela morreu, estou a abraçando pela primeira vez agora, mas sua alma não está comigo!"

          O senhor, com um semblante confuso, diz:

         "Mas eu não estou vendo ninguém aqui, apenas você. Venha, meu jovem, você parece estar doente, eu vou cuidar de você."

         O velho o levou pra dentro de sua casa e, desde aquele momento, aquele bondoso senhor iria cuidar do menino até seus últimos dias. Mas foi naquele dia de desespero e naquele instante que o garoto percebeu que não estava na casa de sua mãe, que não estava segurando um retrato e nem mesmo abraçando sua mãe. Naquele dia, Eduardo estava largado numa calçada, chorando e abraçado com um livro. Ele estava no lugar certo e na hora certa.
        Sua mãe, talvez era um anjo ou uma energia que guiara seu filho de encontro com uma boa alma que o acolhesse em sua casa, para que o mesmo tivesse um lar e vivesse dignamente. Nunca houve destinatários nem remetentes, e sim, forças que ultrapassaram a vida para provar o amor entre mãe e filho.

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