quarta-feira, 8 de junho de 2011

Samba para uma vida toda

Existe ali aquele senhor bebendo como todos nessa cidade,
existe ali o guarda, sempre a me olhar com olhos irritados
existe ali o banqueiro, sempre esbanjando poder e dinheiro,
existe também pessoas boas, mas que nunca serão mais do que isso, porque existe a comodidade de uma vida tranquila, medíocre em alguns pontos de vista, mas que não merece qualquer tipo de julgamento.
Existe (sempre existe) aqueles trambiqueiros que fazem qualquer trapaça por algumas moedas na cartola.
É um lugar monótono, sempre com as mesmas atrações; mas lá estava eu.
O circo estava na cidade, odeio!
Enquanto elefantes e buzinas ressoavam, escutei um samba aceitável vindo da esquina ...
Até que decido ir lá acompanhar, ser apenas um pequeno no meio de gigantes do violão
(na época eu achava que tudo que tinha corda era violão).
Não era tão novo, tinha lá meus anos. Mas eu possuia uma certa ingenuidade que hoje consegue me irritar.
Arrisquei-me a pedir um copo de mate para um senhor bigodudo e sujo, porém simpático.
Não precisei nem pagar, apenas tive que sentar em um banco horrível de madeira perto de um balcão imundamente lotado de copos de vidros pequenos com restos de pinga e cerveja.
Empolguei-me com todo aquele som e comecei a batucar no banco ao lado, arranquei alguns olhares repressivos e alguns sorrisos velhos que trazem muitas histórias só por simplesmente sorrir.
Achei engraçado e ri.
Instantes depois, um senhor, eu achava que era o mais novo deles, entregou-me um violão antigo, uma madeira já gasta com tantas notas tocadas e cordas que já ultrapassaram os limites de vibrações ..
Peguei aquilo com um certo carinho, apesar daqueles bigodes pretos olharem para mim com uma certa tirania ... Achava tudo engraçado, mas naquele momento eu fiquei um pouco nervoso, pois meu pai me ensinou a tocar rock n' roll em tudo que fizesse barulho, era Legião pra cá ou Lobão no toca-discos do fundo de casa.
Ou seja, não tinha a mínima ideia do que fazer com aquilo na mão ...
se eu tocasse 'que país é esse' eles iriam achar que eu era algum tipo de jovem revolucionário muito politizado e, por outro lado, se eu tocasse alguma do Lobo iriam me achar algum tipo de garoto drogado e anti-sistema.
Por sorte, lembrei-me que sabia (achava que sabia) tocar uma música sobre uma certa garota das praias de Ipanema de um tal de Jobim,
coisas da minha mãe ...
Comecei a tocar as primeiras notas, estava com medo de ter acabado com a animação dos trabalhadores do bar e, para para piorar, esqueci o resto da música ... pensei em sair correndo, mas, na hora em que iria começar a errar tudo, todos entraram no meu ritmo com seus instrumentos e puseram-se a cantar.
comecei a errar as notas, mas ninguém notou ...
eu tocava baixinho para ninguém me ouvir no meio daquelas tantas velharias tão bem tocadas ...

Acho que, não consigo explicar o por que, aquela cena mudou todo o sentido da minha vida...
Hoje percebo que sou metade de um todo que sonhei
Equilibro-me na corda bamba de um circo que, descuidado, entrei
Agora ... sou palhaço numa roda de samba.

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